sexta-feira, 4 de julho de 2008

Quatro anos sem ele

"Não sei porque você se foi
Quantas saudades eu senti
E de tristeza vou viver
Aquele adeus, não pude dar..."
.........

Espelho
João Nogueira

Nascido no subúrbio nos melhores dias
Com votos da família de vida feliz
Andar e pilotar um pássaro de aço
Sonhava ao fim do dia ao me descer cansaço
Com as fardas mais bonitas desse meu país
O pai de anel no dedo e dedo na viola
Sorria e parecia mesmo ser feliz


Ê vida boa, quanto tempo faz
Que felicidade
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai
Um dia de tristeza me faltou o velho
E falta lhe confesso que ainda hoje faz
Me abracei na bola e pensei ser um dia
Um craque da pelota ao me tornar rapaz
Um dia chutei mal e machuquei o dedo
E sem ter mais o velho pra tirar o medo
Foi mais uma vontade que ficou pra trás


Ê vida à toa, vai no tempo, vai
Eu sem ter maldade
Na inocência de crianca de tão pouca idade
Troque de mal com Deus por me levar meu pai
Assim crescendo eu fui me criando sozinho
Aprendendo na rua, na escola e no lar
Um dia eu me tornei o bambambam da esquina
Em toda brincadeira, em briga, em namorar
Até que um dia eu tive que largar o estudo
E trabalhar na rua sustentando tudo
Assim sem perceber eu era adulto já


Ê vida voa, vai no tempo, vai
Ah, mas que saudade
Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade
E orgulho de seu filho ser igual seu pai
Pois me beijaram a boca e me tornei poeta
Mas tão habituado com o adverso
Eu temo se um dia me machuca o verso


E o meu medo maior é o espelho se quebrar
.......

Não poderia imaginar um dia ficar sem o meu paisinho, pois é, mas já são quatro anos de saudades e lembranças sem fim...
O meu medo maior também é o espelho se quebrar, porque herdei muita coisa do meu herói. Não pensei em um dia ser uma craque da pelota, como diz na música de João Nogueira, que tantas noites de sábado ouvi junto com ele essa mesma música tocar milhares de vezes, repetidamente. Era esse um costume dele. Repetir as músicas que ele gostava, mesmo com a nossa cara feia: - Ah pai, de novo a mesma música!
Hoje são elas que me faz lembrar a memória dele...
O que herdei dele não foi ser uma craque da pelota, como estava dizendo, e como ele foi no gol dos XI Garotos do Piqueri, mas sim a paixão pelo futebol, pelo Corinthians, pelas mesas redondas, pelo Pacaembu...
Espero que ele esteja lá em cima olhando por mim... espero estar enchendo ele de orgulho por fazer aquilo que ele se enchia todo de orgulho quando imaginava: - Minha filha será uma grande jornalista!
"Pai, estou me esforçando para não te decepcionar, onde você estiver"

Poderia ficar aqui e ocupar o espaço infinito que esse blog me oferece, mas o desabafo foi suficiente para tornar a sua imagem imortal...
Te Amo, pai.

Nenhum comentário: